Chegou a hora da onça beber água! No carnaval de São Luís, é assim, o que é tradição é jogado para segundo plano. Depois de lotarem a Litorânea, a Praia Grande e a Avenida Beira-mar, com os trios baianos em licitações que distribuem dinheiro “a fulote”, e pagam cachês absurdos, partimos agora para os desfiles de passarela com as agremiações carnavalescas que sempre estiveram presentes no carnaval da capital maranhense.
Todas elas tentando se reerguerem da trairagem imposta pelo sistema, que as abandonaram no verdadeiro período carnavalesco e correndo o risco de mergulharem num lamaçal proporcionado pelas decorrentes chuvas que caem na capital e que podem atrapalhar os desfiles deste final de semana de um carnaval fora de época, que só existia por obra da Bahia, pois no Maranhão o carnaval que não seja nos dias, é conhecido como Lava-pratos da folia.
Mas como tem chuvas que vem para colheita, a reconstrução pode se dar também nesse final de semana, e com isso uma nova oportunidade pode ser dada às agremiações locais, numa resposta de público, animação e beleza sublime que possa mostrar que o carnaval da tradição pode sim sobreviver aos shows milionários de poucas durações, em que o carnaval de São Luís se condicionou, implantado por dois poderes que manipulam o dinheiro público e detêm o poder de dizer um para outro o que eles querem, sem ao menos o Ministério Público dê uma palavra que possa cobrar dessas autoridades, o respeito com o erário público. Coisas que acontecem no Maranhão!
Mas “deixando a profundidade de lado” dessa divina comédia humana, o povão vai querer mesmo é ficar colado a noite inteira nos desfiles das brincadeiras que irão cantar as coisas do Maranhão na passarela, com muita diversão, alegria e fantasias vestidas em grupos de amigos e em agremiações rivais que irão defender seus bairros e grupos, com seus enredos que serão cantados para uma torcida delirante pelos seus cordões carnavalescos.
Por lá teremos: Turma do Quinto, da Madre Deus; Favela do Samba e Túnel do Sacavém, do bairro do Sacavém; Flor do Samba, do Desterro; Império Serrano, do Monte Castelo; Mangueira, do João Paulo; Mocidade da Ilha, da Cohab; Unidos de Fátima e Marambaia, do Bairro de Fátima e Terrestre do Samba, da Estiva, todas elas prontas com suas comunidades a fazerem uma grande festa na Passarela do Anel Viário, numa tradição que já dura cerca de 50 anos.
Diante dessa multiplicidade de formas e especificidades que carnaval possui no Maranhão, a realidade não contraria a regra! É possível exemplificar a situação apenas citando o caso único dos Blocos Tradicionais, manifestação cultural que só é observada em São Luís. Com muita criatividade, foram criados instrumentos artesanais de percussão, e as fantasias começaram a colorir o carnaval da Ilha. Blocos surgiram ao longo dos anos como: Vira-Latas, Boêmios, Pif Paf, Os Velhinhos Transviados, Os Bambas, Escolinha do Bessa, e tantos outros que fizeram brilhar o ritmo pelas ruas de São Luís.
Os desfiles, antes organizados pelas rádios, começaram a receber premiações e os determinados locais se tornaram bastante conhecidos. São antológicos os desfiles realizados no circuito da Deodoro. Em alguns anos, tentou-se transferir a festa para o Anel Viário, debaixo do viaduto do Monte Castelo, e ainda na João Lisboa, alternativas que tiveram seus brilhos. Em 1989, após a construção do Aterro do Bacanga, o desfile se transferiu definitivamente para esse local. A passarela, apesar das inúmeras e veementes reivindicações dos carnavalescos e da população, ainda não possui uma estrutura fixa e definitiva.
Com uma programação de fortalecimento das tradições voltadas para a valorização das agremiações carnavalescas da capital maranhense, começam hoje os desfiles oficiais da Passarela do Anel Viário. Que a “vibe” seja positiva e que chegue a hora da colheita!