São Luís, Afetivo Patrimônio Cultural da Humanidade
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Por: DIÁRIO DA MANHÃ, Publicado em: segunda, 11 de setembro de 2023

O grande mercador, embaixador e explorador Marco Polo (nascido em Veneza, Itália, a 15 de setembro de 1254, e falecido na mesma cidade a 8 de janeiro de 1324), foi um grande viajante que descortinou para os europeus o continente asiático e as maravilhas da China de então no seu livro “As Viagens de Marco Polo”. Escreveu certa vez o aventureiro veneziano que “jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve”. É uma frase que se nos parece mais do que apropriada para se tentar realizar uma digressão mais sentimental do que filosófica nestas breves palavras que intentam capturar um naco da magia que transpira de São Luís do Maranhão, cidade que adota como certidão de nascimento a data de 8 de setembro de 1612.

O histórico Palácio dos Leões, sede do governo do Estado do Maranhão - Foto: Júnior Foicinhas

O histórico Palácio dos Leões, sede do governo do Estado do Maranhão – Foto: Júnior Foicinhas

Capital provinciana há cerca de 50 anos atrás, sua população era então menor que a quarta parte da atual cifra que ultrapassa um milhão de almas. Ao longo de tão pouco tempo, seu território ocupado se expandiu e adquiriu a doença do inchaço urbano fora dos limites do Centro Histórico tombado pelo decreto estadual, mas a antiga feição romântica da capital maranhense, a velha Upaon-Açu (Ilha Grande) dos tupinambás ainda perdura, sobretudo após seu patrimônio cultural ser mundialmente reconhecido.

Inicialmente habitada pelos indígenas, conhecida pelos espanhóis Vicente Pizon e Diego de Lepe, fundada pelos franceses (embora alguns historiadores questionem esse fato) e finalmente conquistada pelos portugueses, sofrendo um breve domínio holandês, a cidade se tornou capital do Estado do Maranhão e Grão-Pará, atravessou o período do Império, viu o Maranhão aderir à independência do Brasil quase um ano após o grito do Ipiranga, assistiu à demolição do seu pelourinho à luz da Proclamação da República, e testemunhou o surgimento de seus primeiros bondes a tração animal serem substituídos por outros movidos a energia elétrica, assim como seus antigos lampiões a querosene ou gás também sucumbirem ao advento da eletricidade.

São Luís atravessou as duas guerras mundiais, assistiu aos bucólicos bondes serem substituídos pelos automóveis, que trouxeram a tiracolo as pragas da poluição do ar e do calor e feiúra do asfalto, que sufocou quase a totalidade do calçamento antigo da cidade. Muitos prédios históricos vieram abaixo, tantos outros foram deformados, e muitos ainda exibem apenas a carcaça de pedra. Mas, apesar dos pesares, São Luís resistiu aos bombardeios do tempo.

O Centro Histórico de São Luís foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 1974. O sítio está localizado na Ilha de São Luís, em frente à baía de São Marcos, com seu espaço histórico urbano ainda preservado de forma harmônica. Esse tombamento federal engloba cerca de mil imóveis, remanescentes do período colonial e imperial, com grande importância histórica e arquitetônica (neste aspecto com relação à sua tipologia, espaçamento interno e fachadas, grande parte delas revestidas com azulejos portugueses). O coração pulsante desse conjunto foi reconhecido, posteriormente, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, em 1997, como Patrimônio Cultural Mundial, pelo mérito de abrigar uma singular e bastante rica tradição cultural, exemplo de cidade com a marca colonial portuguesa, apresentando evidente influência pombalina, traçado urbanístico original ainda preservado, o que se percebe na sua malha urbana, com feição arquitetônica e urbanística do século XVII.

Estima-se que, além dos tombamentos mundiais e federais, incluindo o tombamento estadual, o conjunto some quatro mil imóveis, construídos, sobretudo, ao longo dos séculos XVIII e XIX, nos quais o Maranhão atingiu proeminência nacional através de uma economia pujante, tendo como lastro a produção e exportação de algodão e arroz, o que elevou a capital maranhense ao posto de quarta cidade mais rica do Brasil, nessa época, logo após Salvador, Recife e Rio de Janeiro. No final do século XIX surgem os mais destacados exemplares arquitetônicos de São Luís, prédios com quatro pavimentos e sobrados com fachadas de azulejos oriundos de Portugal, edificados com soluções arquitetônicas adequadas ao clima, dispondo de recursos técnicos que aproveitam a ventilação oriunda do mar.

Fiel ao seu traçado original, de 1615, concebido pelo engenheiro português Francisco Frias de Mesquita, nos séculos XVIII E XIX houve aceleração do crescimento urbano da cidade. Pelas entranhas das nervuras dessa espinha dorsal urbanística, a rua Portugal se destaca, com seus prédios de fachadas azulejadas, em pleno coração do bairro da Praia Grande, no qual imponentes sobrados ainda conservam suas características originais. Ali se concentraram até fins do século XX inúmeros estabelecimentos comerciais, os mais destacados de toda a capital, na época. Atualmente, existem pequenos comércios na área, bares e restaurantes, lojas de artesanato, e instituições tais como a Casa de Nhozinho, a Fundação Municipal do Patrimônio Histórico, o Museu de Artes Visuais, dentre outros.

A beleza histórica e arquitetônica do Centro Histórico de São Luís presenciada em toda sua plenitude e emoldurada pelas tradicionais e modernas embarcações que navegam na baía de São Marcos - Foto: Paulo Caruá

A beleza histórica e arquitetônica do Centro Histórico de São Luís presenciada em toda sua plenitude e emoldurada pelas tradicionais e modernas embarcações que navegam na baía de São Marcos – Foto: Paulo Caruá

Conhecida como “Cidade dos Azulejos”, a capital maranhense abriga, sobretudo no seu Centro Histórico, o maior conjunto urbano de azulejos da América Latina. Tendo função estética e utilitária, o revestimento das fachadas de centenas de casarões previne contra o castigo raivoso das chuvas e dá uma trégua ao calor do verão, refletindo os raios solares e tornando agradável o ambiente interno dos prédios. A cada esquina São Luís encanta, seduz, convida o visitante a se aventurar pelos meandros do seu Centro Histórico. Vale a pena mergulhar no passado e resgatar a magia que se abriga nessa viagem no tempo.

Texto: Paulo Melo Sousa

Edição: Gutemberg Bogéa


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